terça-feira, 20 de outubro de 2009

poluição sonora te enxendo o saco no trabalho




A influência da poluição sonora na qualidade de vida dos trabalhadores
Dálcio Roberto dos Reis Júnior (UTFPR-PG) dalcio.junior@gmail.com
Luiz Alberto Pilatti (UTFPR-PG) lapilatti@utfpr.edu.br
Carlos César Stadler (UTFPR-PG) cstadler@utfpr.edu.br
Ivanir Luiz de Oliveira (UTFPR-PG) ivanir@utfpr.edu.br
Resumo: O presente artigo tem como objetivo verificar qual o nível e o tempo de
exposição a que os trabalhadores estão sujeitos no ambiente de trabalho e em casa,
qual o nível de perturbação e qual pode ser a influência causada por essa
exposição. A amostra foi composta por 28 colaboradores de empresas distintas da
região de Pato Branco – PR. A análise dos resultados foi feita de modo estatístico.
As ferramentas de coleta de dados consistiram em um questionário fechado e uma
entrevista semi-estruturada. Os resultados mostram que uma grande parte dos
colaboradores estão expostos direta ou indiretamente a poluição sonora no
ambiente de trabalho, e em menor número em casa também, isso pode transformar
o trabalho num martírio, contribuindo assim para uma diminuição do nível de
qualidade de vida e uma perda da qualidade da produção das empresas.
Palavras chave: Poluição sonora; Qualidade de vida; Trabalho.
1. Introdução
Devido ao crescimento industrial, as organizações estão passando por
mudanças organizacionais e estruturais muito importantes que, em alguns casos,
podem levar a diversos riscos ambientais no trabalho os quais, por sua vez, podem
prejudicar a produção dos colaboradores.
Dependendo das condições a que os colaboradores estão sujeitos, o trabalho,
segundo Pagliosa (1999) perde o seu conceito ideológico de relação homem/homem
e homem/meio, passando a ser um martírio para os colaboradores.
Por ser de interesse desta pesquisa, ressaltar-se-á dentre os inúmeros riscos
ambientais a que os colaboradores estão sujeitos, a poluição sonora, um risco
ambiental em grande evidência nas empresas, principalmente em alguns ramos de
atuação específicos.
A poluição sonora é um dos principais fatores que podem tornar o trabalho um
martírio, o que certamente gerará uma insatisfação dos colaboradores, fazendo com
que os mesmos percam a qualidade da sua produção, devido ao ambiente
inadequado no qual estão inseridos.
Esse fato é estudado pela Organização Panamericana de Saúde e pela
Organização Mundial de Saúde (1980), que dizem que o ruído pode perturbar o
trabalho, o descanso, o sono e a comunicação nos seres humanos; além do que
pode prejudicar ou provocar reações psicológicas, fisiológicas e até mesmo
patológicas.
A exposição contínua aos ruídos pode afetar o colaborador de duas formas:
efeitos na audição ou efeitos gerais. Por ser de interesse dessa pesquisa, a segunda
forma, efeitos gerais, é a que será mais aprofundada, pois se trata do incômodo que
o ruído causa ao trabalhador, independentemente de ter conseqüências patológicas.
Esta forma preocupa-se da saúde mental de quem está exposto a ruídos e não
somente da saúde auditiva.
O desconhecimento por parte da empresa sobre a exposição dos
colaboradores aos ruídos gerados no ambiente de trabalho pode ter conseqüências
na produtividade e na qualidade de vida. Isso pode levar as empresas a precisar de
mais mão-de-obra para realizar a mesma tarefa, ou até mesmo buscar soluções
para a falta de produtividade sem ter conhecimento da real razão para a perda do
desempenho dos seus colaboradores.
O objetivo desse artigo é verificar qual o nível e o tempo de exposição a que
os colaboradores estão sujeitos no ambiente de trabalho e em casa, qual o nível de
perturbação e qual podem ser as conseqüências causadas por essa exposição.
2. Poluição sonora e qualidade de vida (QV)
A poluição sonora ou ruído pode ter várias origens dentro da empresa, um
simples ruído, por mais baixo que seja, pode incomodar o trabalhador, fazendo com
que não tenha a mesma produtividade do que se estivesse num ambiente silencioso.
O ruído, segundo Russo et al (1984), é uma superposição de vários
movimentos vibratórios, com freqüências e intensidades diferentes e que geralmente
geram um som desagradável, principalmente se for repetitivo, intenso e inesperado,
tirando completamente a concentração do colaborador.
A organização mundial da saúde, em 1980, cita que o ruído, por menor que
seja, pode perturbar o trabalho, o sono, o descanso e a comunicação entre os seres
humanos.
A concentração no trabalho é fundamental para uma total eficiência e eficácia
na produtividade, levando o colaborador a produzir o máximo possível, em
quantidade e qualidade.
Segundo Karl Marx (1989) a subordinação orgânica do colaborador no
trabalho, além de significar uma exigência biológica, requer durante toda a jornada
de trabalho a concentração do trabalhador orientada a um fim e a um objetivo.
Caso o colaborador não esteja com “atenção” no que faz, como conseqüência
de um ruído, por exemplo, esta se manifesta através de uma reação conhecida
como stress, ou seja, o colaborador começa a ter reações no organismo, como
nervosismo, agonia, impaciência etc.
Esses fatos provavelmente acarretarão numa perda de produtividade no
trabalho e numa perda da qualidade de vida (QV), tanto dentro quanto fora do
ambiente de trabalho.
O item “condições de trabalho” é apenas uma dentre as oito categorias
conceituais propostas por Walton (1973) para se chegar a um conceito de qualidade
de vida no trabalho (QVT), e é a categoria mais importante a ser tratada nessa
pesquisa, mas sem excluir as demais, pois a poluição sonora e os ruídos fazem
parte diretamente das condições de trabalho que a empresa dá ao colaborador para
exercer a sua função.
O conceito de QV é extremamente abrangente, variando de indivíduo para
indivíduo, sendo que o conceito depende dos objetivos, das perspectivas e dos
projetos de vida de cada um (MENDES & LEITE, 2004).
Apesar de existirem inúmeras definições de QV, existem algumas que
abrangem o âmbito geral do tema, ou seja, abrangem todos os aspectos que podem
ser relevantes para a maioria das pessoas, no que diz respeito a sua qualidade de
vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1974 define QV como: “A
percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de
valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações”. Roeder (2003) engloba a esse conceito os diversos domínios como
a saúde física, a saúde psicológica, as relações sociais e o meio ambiente.
Esse conceito da OMS está inserido dentro do conceito de Qualidade de Vida
no Trabalho (QVT), citado por Mendes & Leite (2004), que diz que a qualidade de
vida está relacionada diretamente ao trabalho, mas sem estar isolada da vida do
indivíduo fora da empresa.
A QVT representa uma relação entre a qualidade de vida do indivíduo dentro
e fora do ambiente profissional, como mostra Limongi-França (2004, p. 24), que cita
o seguinte: “as definições de QVT vão desde cuidados médicos estabelecidos pela
legislação de saúde e segurança até atividades voluntárias dos empregados e
empregadores nas áreas de lazer, motivação, entre inúmeras outras”.
3. Metodologia
A natureza da pesquisa desenvolvida neste artigo é descritiva que, para Gil
(1999, p.44), pode ser conceituada como sendo a atividade que tem por objetivo
principal descrever as características de um determinado fenômeno ou população.
A amostra foi estabelecida de modo voluntário probabilístico por vinte e oito
colaboradores, todos de empresas distintas, dos mais variados ramos de atuação.
Os colaboradores analisados trabalham em empresas da região de Pato Branco –
PR e possuem funções variadas. Todos os colaboradores trabalham no setor
operacional da empresa, ou seja, não foram consultados os gestores de alto
escalão.
O questionário utilizado foi adaptado de Zannin e Szeremetta (2003) e tem
como objetivo conhecer a reação dos colaboradores com os ruídos no local de
trabalho. O questionário é composto por seis questões, com quatro opções de
resposta cada questão. O questionário foi aplicado no mês de outubro de 2006.
As empresas que fizeram parte dessa pesquisa são dos seguintes ramos de
atuação: móveis e eletrodomésticos; educação; agro-negócio; confecções;
operadora de planos de saúde; prestação de serviços; comércio; instituição
financeira; agricultura; medicamentos; automobilístico; alimentício; administração;
comunicações; saneamento; cooperativa de crédito; tecnologia;
importação/exportação; metal-mecânico e embalagens.
A análise dos resultados foi feita de modo estatístico, que para Jesus (2005) é
um processo para se obter, apresentar e analisar características ou valores
numéricos para uma melhor tomada de decisão em situações de incerteza.
4. Resultados e considerações finais
A tabela I mostra os resultados obtidos.
TABELA I
Questionário e resultado das entrevistas
Perguntas/ Respostas Nº total de entrevistados %
Com que freqüência você
trabalha no mesmo ambiente
de trabalho?
Todos os dias 22 78,6
3 vezes por semana 3 10,7
2 vezes por semana 0 0
1 vez por semana 1 3,6
Não tenho local definido 2 7,1
Durante o seu trabalho, qual
o fator no ambiente que lhe
causa maior perturbação?
Segurança local 1 3,6
Poluição sonora 11 39,3
Poluição do ar 2 7,1
Nenhum desses 14 50
No seu trabalho, você se
expõe a ruídos? Classifiqueos.
Sim, muito intenso 0 0
Sim, intenso 5 17,9
Sim, pouco intenso 17 60,7
Não 6 21,4
Estime o número de horas
por dia a que você fica
exposto aos ruídos na
empresa.
Menos de 1 hora 9 32,1
de 1 à 4 horas 8 28,7
de 4 à 8 horas 9 32,1
Mais de 8 horas 2 7,1
Você se expõe a ruídos na
rua em que mora?
Classifique-os.
Sim, muito intenso 1 3,6
Sim, intenso 1 3,6
Sim, pouco intenso 14 50
Não 12 42,9
Estime o número de horas a
que você fica exposto aos
ruídos na rua em que mora.
Menos de 1 hora 17 60,7
de 1 à 4 horas 8 28,6
de 4 à 8 horas 3 10,7
Mais de 8 horas 0 0
Fonte: o autor (2006)
Na primeira questão foi abordado se o colaborador trabalha todos os dias no
mesmo ambiente, e 78,6% confirmaram que trabalham todos os dias no mesmo
ambiente, o que aumenta o stress com a poluição sonora, por estar diariamente
exposto a ela.
A metade dos entrevistados revelou que não tem nenhum tipo de perturbação
ambiental no seu trabalho, mas por sua vez, a poluição sonora foi citada como o
aspecto que mais perturba o colaborador, sendo assinalada por 39,3% dos
entrevistados. Isso revela que diante da segurança local e da poluição do ar, opções
essas com apenas 3,6% e 7,1% respectivamente, a poluição sonora ainda é o maior
dos problemas enfrentados pelas empresas e pelos seus colaboradores.
Pouco mais de 20% dos entrevistados revelaram que não se expõe a nenhum
tipo de ruído no seu trabalho, o que revela que a grande maioria, ou quase 80%
ficam expostos a algum tipo de ruído ou barulho. Sobre a intensidade desse ruído,
mais de 60% dos entrevistados revelaram que o ruído é de pouca intensidade, mas
existe. Por outro lado, 17,9 % dos colaboradores revelaram que o ruído a que se
expõe é intenso.
Sobre o tempo de exposição ao ruído, mais de 90% dos entrevistados
revelaram que ficam expostos de 1 a 8 horas por dia, o que é natural levando-se em
conta a jornada de trabalho de 8 horas, mas, dois colaboradores responderam que
ficam mais de 8 horas diárias sob ação de ruídos.
Quando questionados sobre o tempo de exposição aos ruídos quando estão
em casa, o que pode atrapalhar o descanso do indivíduo, como revelou a OMS e a
Organização Panamericana da Saúde (1980), mais da metade, ou 57% dos
colaboradores revelaram que existe poluição sonora na rua em que moram.
Quanto à intensidade dessa poluição, 50% responderam que se trata de
ruídos pouco intensos, apenas 2 respondentes revelaram que ficam expostos a
ruídos intensos e muito intensos mesmo dentro de casa.
Os colaboradores, porém, admitiram que ficam pouco tempo expostos a
esses ruídos, pois mais de 60% responderam que ficam menos de 1 hora expostos,
28,6% citaram que ficam de 1 a 4 horas e 10,7% de 4 a 8 horas, o que já é mais que
suficiente para atrapalhar o sono e o descanso do indivíduo.
Baseado no referencial teórico e nos resultados dos questionários, conclui-se
que muitos colaboradores estão tendo problemas com a exposição à poluição
sonora, seja no ambiente de trabalho ou em casa, isso pode acarretar numa perda
de produtividade no trabalho devido ao cansaço e a falta de sono e consequente
perda da qualidade de vida no trabalho e em casa. Nesta situação o indivíduo tem
mais propensão a desenvolver quadros de stress, irritabilidade e falta de atenção, o
que segundo Pagliosa (1999), transforma o trabalho num martírio.
O nível e o tempo de exposição variam muito dependendo da empresa na
qual o colaborador trabalha. Numa empresa do setor metal-mecânico o trabalhador
está muito mais sujeito a poluição sonora do que numa instituição de ensino, por
exemplo. As empresas mais sujeitas a ruídos devem repensar os seus ambientes de
trabalho, pois em alguns casos, são os colaboradores que não trabalham
diretamente com algo barulhento são os que mais sofrem com isso. Um exemplo
disso, é que alguns entrevistados do setor administrativo das empresas
pesquisadas, revelam que estão expostos aos ruídos oriundos do setor operacional
da empresa, o que pode ser mais facilmente evitado.
As empresas por sua vez, perdem muito em produtividade, pois o colaborador
diminui a quantidade ou a qualidade da sua produção, acarretando um aumento dos
custos de produção, devido à necessidade de se aumentar o quadro de funcionários
e, por sua vez, produzir a mesma quantidade que seria produzida por um número
menor de colaboradores satisfeitos e sem o efeito da poluição sonora no ambiente
de trabalho e em casa.
Referências
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http://cursos.unisanta.br/matematica/downloads/2005/2semestre/AULAS%20DE%20
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MARX, K. Introducción general a la crítica de la economia política. México, Pyp-
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RUSSO, I.C.P. TROISE, S.J. PEREIRA, J.C. Audiologia. Cadernos distúrbios da
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, Pró-reitoria de recursos humanos
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http://www.proreh.ufu.br/proreh/ge.php
WALTON, R. E. Quality of working life: what is it? Sloan Management Review,
Cambridge, v. 15, n. 1, December, 1973.
ZANNIN P. H. T. SZEREMETTA, B. Avaliação da poluição sonora no parque
Jardim Botânico de Curitiba, Paraná, Brasil. Cadernos de saúde pública V. 19 nº
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Área temática: Gestão de Recursos Humanos

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