terça-feira, 20 de outubro de 2009

moradores de Chapecó também são vítimas




POLUIÇÃO SONORA NAS ÁREAS DE MAIOR TRÁFEGO
VEICULAR DE CHAPECÓ-SC
Alexsandro Luiz Julio1
Valdecir Luiz Bertollo2
Resumo: A poluição sonora é a perturbação que envolve maior número de
incomodados, e diante dos danos dramáticos causados já é a terceira propriedade
entre as doenças ocupacionais, sendo assim este estudo tem como tema a poluição
sonora nas áreas de maior tráfego veicular de Chapecó – SC. Trata-se de um
levantamento realizado através de decibelimetro e da aplicação de questionários a
uma amostra de 100 pessoas. Foram realizadas mensurações em quatro pontos da
cidade com o objetivo de determinar se em algumas áreas do município, existe o
problema da poluição sonora, principalmente, a causada por veículos automotores
em suas diversas formas, como escapamento do motor avariado ou desregulado,
som emitido por aparelhagem automotiva fora do permitido, entre outros, avaliando
também outros sons, identificando suas principais causas e como ele tem afetado a
vida da população. Justificou-se este trabalho devido à falta de estudos sobre o
1 Biólogo, Aluno do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade de Passo Fundo –
UPF – Área de Concentração Infra-Estrutura e Meio Ambiente. e-mail: alexjulio@brtrubo.com.br.
2 Biólogo, Mestre em Agronegócios e Especialista em Ecologia, Professor do Centro de Ciências Agro
Ambientais de Alimentos da UNOCHAPECÓ. e-mail: valdecirb@gmail.com
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Categoria
Trabalho Acadêmico / Artigo Completo
Eixo Temático – Questões do Ambiente Urbano
problema da poluição sonora em Chapecó junto aos órgãos competentes. Estes
dados foram relacionados com vários parâmetros como: idade dos entrevistados,
sexo, problemas de saúde e opinião sobre o assunto. Os resultados da pesquisa
apontam que nesses locais existem problemas de excesso de emissão de ruídos e
alguns dados são determinantes, como: tipos de veículos circulantes nesses locais,
mal uso de veículos, falhas no sistema viário da cidade. A população apontou de
forma geral que os principais danos que a poluição sonora tem causado a saúde
são: insônia, estresse, cefaléia e perda da concentração.
Palavras-chave: Poluição sonora, tráfego, problemas de saúde.
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi desenvolvida na cidade de Chapecó, localizada na região
oeste do estado de Santa Catarina. Fundada em 1917, hoje ela é pólo regional
tendo influência em aproximadamente 70 municípios desta região.
Devido a sua importância econômica, ela se tornou ponto de passagem e de
chegada de muitos viajantes. Neste contexto de desenvolvimento, Chapecó tornouse
um grande entroncamento rodoviário, sendo recortado por 4 rodovias, todas
levando as pessoas que necessitam passar pela cidade a freqüentar a área central
devido a não existência de caminhos alternativos. Em função disto procuramos
saber se Chapecó possui problemas de poluição sonora e se estamos vivendo em
uma cidade poluída sonoramente, tornando nossos moradores, segundo Pimentel-
Souza (1990) “cidadãos de segunda classe”. Pois, sabemos que todo ruído que
causa incômodo pode ser considerada poluição sonora. A noção do que é barulho
pode variar de pessoa para pessoa, mas o organismo tem limites físicos para
suportá-lo. Barulho em excesso pode provocar surdez e desencadear outras
doenças, como pressão alta, disfunções do aparelho digestivo e insônia. Distúrbios
psicológicos também podem ter origem no excesso de ruído (VOGT, 2002).
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Para Pimentel – Souza (1990), “O estresse degradativo do organismo começa
a cerca de 65 dB(A) com desequilíbrio bioquímico, aumentando o risco de enfarte,
derrame cerebral, infecções, osteoporose, etc.” No entanto, se a poluição sonora é
restrita a uma determinada região ou área, o problema pode ser considerado
localizado e às vezes de pequena proporção, mas quando ela atinge grande parte
da cidade, como no caso de trânsito intenso e corredores de tráfego, a questão
passa a ser mais ampla e generalizada, pois, além de ofender aos moradores
próximos às vias públicas, atinge também os que passam por elas, tornando-se
assim um problema de saúde pública (SANTOS, 2003). Diante do exposto
objetivamos. Determinar se em algumas áreas do município, existe o problema da
poluição sonora, principalmente, a causada por veículos automotores em suas
diversas formas, como escapamento do motor avariado ou desregulado, som
emitido por aparelhagem automotiva fora do permitido, entre outros, avaliando
também outros sons, identificando suas principais causas e como ele tem afetado a
vida da população.
2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Som indesejável é classificado como ruído. Mesmo música erudita pode ser
enquadrada como ruído, quando as ondas correspondentes são recebidas por um
indivíduo cansado, ou um adversário da música erudita (FELLENBERG, 1980).
Barulho em excesso pode provocar surdez e desencadear outras doenças,
como pressão alta, disfunções do aparelho digestivo e insônia. Distúrbios
psicológicos também podem ter origem no excesso de ruído (VOGT, 2002).
A perda da audição é a justificação para controlar o ruído. A perda da
audição pode ter muitas causas e pelo menos três categorias são
reconhecidas usualmente. Uma perda condutiva significa que as
pressões do som não atingem os centros nervosos do ouvido interno.
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A causa mais freqüente é o acúmulo de cera do ouvido, mas o
sistema mecânico, que transmite as pressões do tímpano para os
centros nervosos, também pode estar com defeito. Esse tipo de perda
para os centros nervosos, também pode estar com defeito. Esse tipo
de perda auditiva muitas vezes pode ser corrigido e geralmente afeta
todas as freqüências do som (SEWELL, 1973).
Uma segunda categoria é a perda perceptiva (neural), o que significa que as
células nervosas não conseguem mais transmitir a sensação de pressão do ouvido
interno para o cérebro. Isso não é reversível (SEWELL, 1973).
A terceira categoria é a perda funcional: um indivíduo não tem deficiência
física, mas por motivos psicológicos, não consegue fazer com que o cérebro
perceba os sinais. Em linguagem vulgar, ele está “fora de sintonia” (SEWELL, 1973).
Destas, o ruído excessivo afeta somente a segunda categoria, a perda
perceptiva ou neural, causando atrofia nas células nervosas, possivelmente como
defesa contra a energia excessiva que é transmitida para o centro cerebral.
Geralmente, essa perda predomina nas freqüências mais altas da faixa auditiva
(SEWELL, 1973).
A sensibilidade de Scbopenhauer já o permitia antecipar em mais de
um século as provas científicas de hoje, ao afirmar: “O barulho é a
tortura do homem de pensamento”. Quando se dorme menos do que
sua média, ou poupando mediadores químicos do sono no cérebro ao
privá-lo, ocorre curiosa compensação por ficar fisicamente mais ativo
durante o dia, mas reagindo menos intelectualmente e criativamente,
e vice-versa (JOUVET, 1977; CARLINI, 1983; SANTOS E CARLINI,
1983; CALFI, 1983).
O sono parece ser o período mais fecundo para consolidar os traços
mnemônicos e geradores de criatividade. Prejuízos causados a ele diminuem a
capacidade das funções superiores do cérebro, condenando suas vítimas a
cidadãos de segunda classe (JOUVET, 1977; DE KONINCK et al, 1989; PIMENTELSOUZA,
1990).
Um dos indicadores da má qualidade de vida ambiental nas nossas cidades
no Brasil foi revelado por pesquisa de Braz (1988) na cidade de São Paulo, onde
14% das pessoas atribuem suas insônias a fatores externos das quais 9,5%
exclusivamente ao ruído. Em qualquer horário o ruído é perturbador.
Pelo menos quatro condições contribuem para o grau de perturbação:
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1. Ruídos com associações desagradáveis perturbam mais do que as associações
neutras ou o ruído inexpressivo. Por exemplo, o som de uma sirene de
ambulância ou de um avião em vôo baixo produz ansiedade e níveis relativamente
altos de perturbação na maioria das pessoas.
2. Um ruído que seja inadequado para a atividade em questão será mais perturbador
do que um ruído esperado. Isso vale particularmente para as horas de
sono. Uma pessoa que dorme, geralmente não espera ouvir caminhões de
entrega ou de coleta de lixo.
3. Os ruídos que são considerados desnecessários ou que não contêm benefícios
podem pesar mais numa escala de aborrecimentos. Uma pessoa aceita os
latidos de seu cachorro, mas reclamará do cachorro do vizinho. Poucas pessoas
se queixam do ruído de um condicionador de ar, embora muitos sejam
mais barulhentos do que o necessário.
Os ruídos afetam cada indivíduo de modo diferente. Certos indivíduos têm
uma ansiedade extrema com ruídos que julgam ameaçadores, e o ruído pode tornarse
uma obsessão que afeta sua saúde física. Outros podem simplesmente achar
que a maioria dos ruídos são estímulos aborrecidos. O sono será interrompido, e a
atenção dada a problemas será desviada. Contudo, outros indivíduos expostos aos
mesmos ruídos talvez não mostrem reações para os mesmos ruídos. O som talvez
entre em sua consciência; e, se o fizer não parece ser um fator de tensão
significativo (SEWELL, 1973).
A poluição sonora é a perturbação que envolve maior número de incomodados
e diante dos danos dramáticos causados já é a terceira propriedade entre as doenças
ocupacionais, só ficando após as provocadas por agrotóxicos e as osteo-articulares
no estado de São Paulo (GOMES, 1989). Nos trabalhadores tem sido constatado
nesses últimos casos: efeitos psicológicos, distúrbios neuro-vegetátivos, náuseas,
cefaléias, irritabilidade, instabilidade emocional, redução da libido, ansiedade,
nervosismo, perda de apetite, sonolência, insônia, aumento da prevalência de úlcera,
hipertensão, distúrbios visuais, consumo de tranqüilizantes, perturbações labirínticas,
fadiga, redução da produtividade, aumento do número de acidentes, de con-
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sultas médicas, do absenteísmo, etc. (GOMES, 1989; OIT, 1986; QUICK & LAPERTOSA,
1983).
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 1988) de São Paulo atesta
também os atrasos do nosso urbanismo, construção civil e o ônus, muitas vezes
excessivo, ou a impossibilidade de remanejar prédios e cidades para se defender do
ruído. É uma das razões dos países desenvolvidos terem desistido do crescimento
das grandes cidades, fixando rígido controle de seus equipamentos e aumentando a
fiscalização das atividades públicas e privadas.
Não conseguimos ainda um plano diretor no Brasil, para ordenar o futuro
crescimento urbano e arquitetônico, preventivo e eficaz na prática para não piorar o
que já existe nas cidades e nas residências, cujos erros não se consertam
facilmente. A Poluição Sonora hoje é tratada como uma contaminação atmosférica
através da energia mecânica ou acústica (ROCHA, 2002).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT prevê os níveis
aceitáveis de emissão de poluição sonora como sendo os apresentados na tabela 1
abaixo:
Tabela 1: Níveis de critério de avaliação para fiscalização de ruídos em ambientes
externos segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT.
Tipos de áreas Diurno Noturno
Área de sítios e fazendas 40 35
Área estritamente residencial urbana ou de hospitais e escolas
50 45
Área mista, predominantemente residencial. 55 50
Área mista, com vocação comercial e administrativa. 60 55
Área mista, com vocação recreacional 65 55
Área predominantemente industrial 70 60
Fonte: Associação brasileira de normas técnicas, ABNT, 2000, in NBR 10151.
Como um comparativo é apresentada e analisada a tabela abaixo determinada
pelo departamento de habitação e desenvolvimento urbano dos Estados Unidos.
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Tabela 2: Níveis recomendados pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento
Urbano dos Estados Unidos para áreas residenciais.
O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos recomenda
para áreas residenciais as seguintes medidas
Até 49 dB Claramente aceitável O ruído de uma sala de estar
chega a 40 dB
De 50 dB a 62 dB Normalmente aceitável Um grupo de amigos conversando
em tom normal chega a
55 dB
De 63 dB a 76 dB Normalmente inaceitável O ruído de um escritório chega
a quase 64 dB
Acima de 76 dB Claramente inaceitável Um caminhão pesado trafegando
chega a 74 dB, o tráfego
de uma avenida de grande
movimento pode chegar aos
85 dB
Fonte: Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos. VOGT,
2002 in: Poluição sonora piora o ambiente urbano.
2.2 METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido em pontos estratégicos dentro do perímetro
urbano de Chapecó, que em primeiro lugar, foram observados in loco, onde foram
demarcados os pontos de maior concentração de veículos circulantes.
Foram escolhidos quatro pontos para a mensuração dos dados, usando como
critérios para a escolha dos mesmos:
a) quantidade de veículos que passam nesses pontos por minuto (acima
de 50 veículos por minuto);
b) volume de pedestres que circulam por esses locais;
Com isso foram escolhidos os seguintes pontos para a mensuração dos
dados:
P1 – Av. Getúlio Vargas, no cruzamento com a rua Mal. Deodoro;
P2 – Av. Getúlio Vargas, no cruzamento com a rua Uruguai;
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P3 - Rua Fernando Machado, no cruzamento com a rua São Pedro;
P4 - Rua General Osório, no cruzamento com a rua São Pedro.
Após a identificação dos pontos procedemos através do decibelimetro à mensuração
dos níveis de ruídos emitidos pelos veículos. Foi usado como parâmetro
para apontar se os pontos mensurados são locais onde ocorre poluição sonora a
norma brasileira NBR 10151/2000, da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).
As medidas foram efetuadas no período de uma semana nos seguintes
horários:
a) Das 07 h 30 min às 9 h;
b) Das 11 h 30 min às 12 h 30 min;
c) Das 13 h às 14 h;
d) Das 17 h às 19 h;
e) Das 21 h às 22 h 30 min.
As leituras foram realizadas a cada cinco minutos, tomando-se as medidas
por um período de um minuto, medindo-se o menor e o maior índice em dB(A), e
calculando-se a média do período a partir destes valores.
As medidas foram realizadas com um decibelímetro analógico da marca Entelbra
modelo ETB 142-A, e o mesmo recebia calibração através de um calibrador
marca Entelbra modelo ETB 135-C. Para evitar a interferência do vento, foi acoplada
ao microfone uma proteção de espuma específica para o equipamento, pois
o ruído causado pelo vento poderia prejudicar as mensurações.
Para que as medidas tivessem a melhor precisão possível, o decibelímetro foi
colocado a 1,20m (um metro e vinte) de altura do solo, sobre um pedestal, e não
a menos de 2m (dois metros) de distância de qualquer obstáculo ou parede que
pudesse refletir as ondas sonoras, como determina a norma 10151/2000 da
ABNT. Sendo calibrado antes do inicio de cada mensuração.
Para os pedestres que transitavam nos locais foi aplicado, de forma aleatória
um questionário contendo cinco questões do tipo fechada, visando identificar a
faixa etária, nível de instrução, quais o emitentes de poluição sonora que mais lhe
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causam incômodo e os danos que os ruídos ali existentes, ou em outros locais
poderiam estar causando aos mesmos.
Os questionários foram aplicados a 100 (cem) pedestres, obedecendo ao
seguinte critério: para cada 10 (dez) pedestres o décimo era abordado e
entrevistado, sendo dividido em 25 questionários para cada ponto de mensuração.
Após os dados coletados, os mesmos foram tabulados e analisados,
conforme a seguinte equação:
F= n X 100; onde:
FÞ freqüência;
nÞ número de respostas para a alternativa;
NÞ número total de respostas.



2.3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados apresentados a seguir foram obtidos através de mensurações
realizadas através de um decibelímetro analógico e questionários aplicados junto
aos pedestres que circulavam pelos quatro locais previamente demarcados para as
mensurações.
As mensurações nos forneceram os seguintes dados: quanto ao sexo
dos entrevistados 62% pertencem ao sexo masculino e 38 % ao sexo feminino.
Quanto a idade dos entrevistados, 31% possuem entre 16 e 22 anos; 29% possuem
23 e 29 anos; 17% possuem entre 30 e 36 anos; 14% possuem acima de 45 anos;
6% possuem entre 37 e 45 anos e apenas 3% possuem menos de 16 anos.
Quanto ao grau de escolaridade dos entrevistados, foram obtidos os
seguintes resultados, apresentados na figura 1 abaixo: ou seja, 37% dos
entrevistados possuem ensino médio completo; 16 % dos entrevistados possuem
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N
ensino médio incompleto; 14% possuem ensino fundamental incompleto; 12%
possuem superior completo; 12% possuem superior incompleto e 9% possuem
ensino fundamental completo.
Figura 1: Grau de escolaridades dos entrevistados na pesquisa.
Na opinião dos entrevistados os causadores de poluição sonora mais
desagradáveis estão apontados na figura 2 abaixo: Nela percebemos que na
concepção de 38,88 % dos entrevistados, os escapamentos abertos de veículos são
os mais desagradáveis, já para 30,82% é o som alto; para 13,01% é a emissão de
som por caminhões e maquinas que os incomoda mais; 12,27% apontaram que
todas as fontes são desagradáveis; 5,59% apontaram outras fontes de poluição
sonora que não as citadas no questionário, como som alto produzido por vizinhos,
casas noturnas, tem, alarmes anti-furto, etc.; 4,79% apontaram as obras civis como
fonte de descontentamento e 1,37% afirmaram não ter problemas com a emissão de
sons do cotidiano. Isso vem a demonstrar a inoperância do sistema de fiscalização
sobre este problema e a falte de um melhor planejamento urbano.
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37%
14% 16%
12%
12%
9%
Ensino médio completo
Ensino médio incompleto
Ensino fundamental incompleto
Superior
incompleto
Superior completo
Ensino fundamental completo
Figura 2: Fontes emitentes de poluição sonora que mais causam incômodos a população.
O sono de todos os indivíduos é sensível ao ruído, havendo perdas
proporcionais às perturbações nas suas nobres funções. Vallet et al
(1975), encontrou num raio de dois quilômetros de autopistas e
aeroportos, em pessoas há vários anos “adaptadas”, uma redução
média de 35% na parte mais nobre do sono, os estágios profundos e
paradoxal, quando o ruído médio aumentou de 43 a 55 dB(A)
(Acústicos) no interior da residência, quando atingia em torno de 77
dB(A) externos.
Quando perguntado aos entrevistados, se eles já haviam sofrido ou vinham
sofrendo problemas de saúde causados pela poluição sonora. Foram sugeridas 11
alternativas que tiveram os seguintes resultados apresentados na figura 3 abaixo:
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32,88
%
30,82
%
13,01
%
12,27
%
5,59
%
4,79
%
1,37
%
0
%
10
%
20
%
30
%
40
%
Nenhuma das
cOitbardaas
sOutro
sTodas as
Cciatamdianshôes ou
mSoámqu inas
Ealstocapamento
aberto
11,17%
17,89%
14,53%
18,44%
18,44%
19,55%
Nenhuma das citadas
Outros
Perda de concentração
Cefaléia
Estresse
Insonia
Figura 3: Problemas de saúde apontados pelos entrevistados devido à poluição sonora.
Aos entrevistados, foi informado que poderiam informar outras doenças que
não às pré-determinadas no questionário. Para esta proposição também foi informado
que poderiam apontar mais de uma alternativa.
O número que se destaca é o índice de pessoas que reclamaram sofrer de
insônia: 19,55%, um número próximo ao que Braz (1988) conclui em sua pesquisa
na cidade de São Paulo, em que 14% das pessoas atribuem suas insônias a fatores
externos das quais 9,5% exclusivamente ao ruído. “Além disso, o ruído deve ter uma
importante contribuição indireta, através do estresse diurno e noturno, causando
também má higiene do sono, cujos efeitos são traiçoeiramente despercebidos das
pessoas por não terem efeitos imediatos...” (BRAZ, 1988). Destaca-se ainda a porcentagem
de entrevistados que apontaram como reclamação o estresse e cefaléia
(18,44%) e perda da concentração (14,53%). Em qualquer horário o ruído é pertubardor.
Um pulso de som de 90 dB de apenas vinte segundos desenvolve oitenta segundos
de constrição periférica nos vasos sangüíneos. GUILHERME (1991). Entre
os que apontaram outras doenças (17,89%) podemos encontrar doenças como hipertensão,
ansiedade, perda de audição, etc. Certos indivíduos têm uma ansiedade
extrema com ruídos que julgam ameaçadores, e o ruído pode tornar-se uma obsessão
que afeta sua saúde física SEWELL, (1973). Quando o barulho interfere na conversa
normal, pode-se inferir alguma perda. Isso se torna ainda mais perigoso se a
interferência for em ordens ou avisos sobre perigos eminentes” (SEWELL, 1973).
“Isso também tem reflexos em todo o organismo e não apenas no aparelho
auditivo. Provoca interferências no metabolismo de todo o organismo com riscos de
distúrbios cardiovasculares, inclusive tornando a perda auditiva, quando induzida
pelo ruído irreversível” (Rocha 2002).
Ao separar-se a amostra em duas pelo critério de idade até vinte e nove anos
e outro acima de vinte e nove anos, as respostas sobre a fonte de poluição sonora
que mais causa incômodo, encontrou-se os seguintes resultados que se apresentam
na tabela 3 abaixo:
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Tabela 3: Fontes de poluição sonora que mais causam incômodos, por grupo
de idade.
Fonte poluição Até 29 anos Acima de 29 anos
Veículo com descarga aberta 33,33% 31,03%
Som automotivo alto 26,44% 37,93%
Caminhões ou maquinas trabalhando 14,94% 10,34%
Obras 8,05% 10,34%
Todas as anteriores 10,34% 10,34%
Nenhuma das anteriores 2,30% 0,00%
Outros 4,60% 4,60%
Fonte: Trabalho de campo – novembro à dezembro 2003. Montagem: Alexsandro Luiz Julio.
Na tabela 3 podemos notar que para a amostra até 29 anos que mais causa
incômodo são os veículos com descarga aberta: 33,33%, seguido de som automotivo
alto com 26,44%. Para a amostragem com mais de vinte e nove anos, os índices
são diferentes, como está apontado na tabela 3 acima, tendo como principais perturbações
som automotivo alto com 37,93%, seguido de veículos com descarga aberta
com 31,03%.
Observa-se uma diferença significativa nos dados das diferentes parcelas da
amostra. Isso pode ter uma explicação clara. A grande maioria da juventude detentora
de um automóvel, com menos de vinte e nove anos de idade, tem o hábito de
possuir em seus veículos, equipamentos de som com alta potência e reunir-se para
freqüentar as ruas e agrupar-se em pequenas turmas para fazer comemorações.
Isso foi observado “in loco” por este autor, durante as mensurações realizadas nos
diferentes locais.
Santos (2003) explica que: “Assim, por se tratar de problema social e difuso, a
poluição sonora deve ser combatida pelo poder público e pela sociedade. Individualmente
com ações judiciais de cada prejudicado ou coletivamente mediante ação civil
pública (Lei nº. 7.347/85), para garantia do direito ao sossego público, o qual está
resguardado pelo art. 225 da Constituição Federal, que diz ser direito de todos um
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meio ambiente equilibrado, o que não se pode considerar como tal em havendo poluição
sonora, quer doméstica, urbana, industrial ou no trabalho”.
Isso também faz comprovar o mau uso destes equipamentos ao realizar-se
junto ao Segundo Batalhão da Polícia Militar de Santa Catarina, localizado na cidade
de Chapecó, um levantamento das infrações por uso indevido de som com volume
acima do permitido no período de julho de 2002 a agosto de 2003, constatou-se que
a grande maioria dos infratores está na faixa etária de dezoito a vinte e nove anos,
conforme a tabela 4:
Tabela 4: Registro de ocorrências de perturbação de som registradas pela
PMSC de julho de 2002 a agosto de 2003.
Faixa etária
Número de infrações
registradas Percentual
Até 29 anos
Acima de 29 anos
106
22
82,81%
17,19%
TOTAL 128 100%
Fonte: Segundo Batalhão da Policia Militar de Santa Catarina.
Confrontando-se as proposições de idade e doenças causadas pela poluição
sonora, há também dados diferenciados às diferentes idades. A amostra até vinte e
nove anos aponta que são mais acometidas por doenças, como insônia, com
21,55%, seguida de cefaléia com 17,24% e estresse com 16,38%. Já entre as pessoas
entrevistadas com idade acima de vinte e nove anos os dados são diferentes.
Esta parcela da amostra aponta ser acometida principalmente por cefaléia e estresse,
20%, e em segundo lugar por insônia e perda de concentração em 14,29% das
respostas. Os dados completos sobre o tema estão na tabela 5:
Tabela 5: Problemas de saúde apontados tendo como causa a poluição sonora
nas diferentes faixas etárias pesquisadas.
Com menos de 29 anos Acima de 29 anos
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Problemas de saúde Percentual
Ansiedade 9,48% 8,57%
Cefaléia 7,24% 20,00%
Diminuição Libido Sexual 0,86% -
Doenças do aparelho digestivo 0,86% -
Estresse 16,38% 20,00%
Insônia 21,55% 14,29%
Nenhuma das anteriores 13,79% 5,71%
Outros 1,72% 11,42%
Perda de audição 4,31% 5,71%
Perda de concentração 13,79% 14,29%
Fonte: Trabalho de campo – novembro a dezembro 2003. Montagem: Alexsandro Luiz Julio.
Existe uma diferença significativa ao comparar-se o sexo dos entrevistados
em suas respostas sobre quais as fontes de poluição sonora que mais os
incomodam. Isso dever-se ao fato que a maioria dos motoristas de veículos que
circulam em nossa cidade, principalmente nos finais de semana no período noturno,
serem do sexo masculino, como foi observado “in loco” por este autor.
Outro fator pode estar relacionado ao fato de que a maior parte dos autuados
com perturbação da ordem por som, serem do sexo masculino tenha influenciado
nas respostas. Para os entrevistados do sexo masculino, o que mais os incomoda
das fontes que emitem poluição sonora são veículos com descarga aberta com
37,23% das respostas, seguida de som automotivo em alto volume com 27,66%. Já
para as mulheres o que mais as incomoda é o som automotivo alto com 36,54%,
seguido de veículos com descarga aberta com 25% das respostas, sendo estas
fontes as mais citadas no percentual geral da pesquisa.
A tabela número 6 abaixo compara as respostas por sexo:
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Tabela 6: Comparativo entre sexo e fonte de poluição sonora que lhe é mais inconveniente.
Homens Mulheres
Fontes poluição sonora Percentual
Veiculo com descarga aberta 37,23% 25,00%
Som automotivo alto 27,66% 36,54%
Caminhões ou maquinas trabalhando 13,16% 9,62%
Obras 5,32% 3,85%
Todas as anteriores 5,32% 19,23%
Nenhuma das anteriores 2,13% -
Outros 7,45% 5,77%
Fonte: Trabalho de campo - novembro à dezembro 2003. Montagem: Alexsandro Luiz Julio.
Com relação às mensurações realizadas nos locais apontados na
metodologia desta pesquisa, realizadas com o decibelímetro, são mostrados a
média obtida em cada ponto durante uma semana de dados mensurados, nos
horário de maior circulação de veículos:
Tabela 7: Médias obtidas nos pontos pesquisados no período de uma semana.
Médias
Horário Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4
7 h e 30 min às 9 h 73 73 70 68
11 h 30 min às 12 h 30 min 74 71 70 73
13 h às 14 h 74 73 69 72
17 h 30 min às 19 h 30 min 74 73 71 72
21 h às 22 h 30 min 73 71 73 73
Fonte: Trabalho de campo - novembro a dezembro 2003. Montagem: Alexsandro Luiz Julio.
Comparando-se as médias obtidas durante a pesquisa com o que rege as
normas brasileiras para o controle de emissões sonoras, encontraremos diferenças
que vão de 10 dB(A) a 18 dB(A), tanto em dias úteis como em finais de semana.
Sendo assim, em nenhum dos pontos pesquisados em qualquer horário vem sendo
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alcançado o que sugere a norma NBR 10151/2000 e sua similar aplicada pelo
Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos,
Pimentel-Souza (1990) em seus estudos mostrou que com o aumento da
ordem de 10 dB(A) causou perturbações em 52% dos eletro encefalogramas,
mudanças no estagio do sono em 17% e que 3% despertassem a consciência. Já
com um aumento em 20 dB(A) externos, causou perturbações em 100% dos eletro
encefalogramas.
Isto demonstra que as populações destes locais podem estar sendo vitimada
pelos males que a poluição sonora traz consigo. Vindo a ser cidadãos que não produzam
o máximo que eles poderiam desenvolver em suas mais diversas atividades.
3 CONCLUSÕES
Pode-se afirmar que nos quatro pontos pesquisados, seguindo o que rege a
norma brasileira NBR 10151/2000 da ABNT (Tabela 1), comparando com a norma
norte-americana do Departamento de habitação e desenvolvimento urbano dos Estados
Unidos (tabela 2), que os pontos pesquisados em Chapecó apresentam índices
de poluição sonora considerada inaceitáveis.
As causas para estes níveis são os mais diversos. Vão desde veículos em desacordo
com a legislação de trânsito, passando por som em automóveis com volume
acima do permitido, indo até falhas no próprio pavimento asfaltíco que causa emissão
de ondas sonoras do choque da estrutura de veículos de carga como foi observado
“in loco” por este autor e apontado pelos pedestres entrevistados que transitavam
por esses locais e falhas na arquitetura que provoca verdadeiras “caixas de ressonância”.
A insônia foi o problema de saúde mais citado pelos entrevistados. Sendo
prejudicial levando a provocar acidentes de trabalho, pois pode vir acompanhada de
perda de concentração, ou impedir um aviso de perigo, ou causar ansiedade nas
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pessoas por não conseguirem se comunicar devido ao barulho. Os reflexos sentidos
quando estamos expostos a esse tipo de poluição variam.
Isso só pode ser atenuado, com uma melhor fiscalização por parte do poder
público, passando por conscientização de motoristas, até melhores condições de
vias urbanas e melhores planejamentos urbanos, objetivando uma melhor dissipação
destas ondas sonoras. Mesmo tendo sido apontada pela amostra da população
como um problema que lhe causa desconforto a poluição sonora é pouco combatida.
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